Prefácio
A
calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da
confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo
contra a loucura e o suicídio... Caro(a) Leitor(a): São como bálsamos para o
Espírito as mensagens contidas neste livreto. Elas transmitem amor, coragem e
fé a todos que nos momentos difíceis da vida necessitam de apoio para o seu
refazimento moral. A Federação Espírita Brasileira edita este livreto para que
você participe também da Campanha Em Defesa da Vida. Esclareça-se e diga não ao
suicídio! *(O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. V,
item 14, 1. ed. especial, FEB.)
Enfoque
da Codificação Espírita
Questão 943. Donde nasce o desgosto da vida, que, sem
motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos?
Efeito
da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade. Para aquele que usa de
suas faculdades com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o
trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta
as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto obra com o fito
da felicidade mais sólida e mais durável que o espera.
Questão 944. Tem o homem o direito de dispor da sua
vida?
Não;
só a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário importa numa transgressão
desta lei. a) Não é sempre voluntário o suicídio? O louco que se mata não sabe
o que faz.
Questão 952. Comete suicídio o homem que perece vítima
de paixões que ele sabia lhe haviam de apressar o fim, porém a que já não podia
resistir, por havê-las o hábito mudado em verdadeiras necessidades físicas?
É
um suicídio moral. Não percebeis que, nesse caso, o homem é duplamente culpado?
Há nele então falta de coragem e bestialidade, acrescidas do esquecimento de
Deus. a) Será mais, ou menos, culpado do que o que tira a si mesmo a vida por
desespero? É mais culpado, porque tem tempo de refletir sobre o seu suicídio.
Naquele que o faz instantaneamente, há, muitas vezes, uma espécie de
desvairamento, que alguma coisa tem da loucura. O outro será muito mais punido,
por isso que as penas são proporcionadas sempre à consciência que o culpado tem
das faltas que comete.
Questão 956.
Alcançam o fim objetivado aqueles que,
não podendo conformar-se com a perda de pessoas que lhes eram caras, se matam
na esperança de ir juntar-se-lhes?
Muito
diverso do que esperam é o resultado que colhem. Em vez de se reunirem ao que
era objeto de suas afeições, dele se afastam por longo tempo, pois não é
possível que Deus recompense um ato de covardia e o insulto que lhe fazem com o
duvidarem da sua providência. Pagarão esse instante de loucura com aflições
maiores do que as que pensaram abreviar e não terão, para compensá-las, a
satisfação que esperavam. (934 e seguintes.)
Questão 957. Quais, em geral, com relação ao estado do
Espírito, as conseqüências do suicídio?
Muito
diversas são as conseqüências do suicídio. Não há penas determinadas e, em
todos os casos, correspondem sempre às causas que o produziram. Há, porém, uma
conseqüência a que o suicida não pode escapar; é o desapontamento. Mas, a sorte
não é a mesma para todos; depende das circunstâncias.
Alguns
expiam a falta imediatamente, outros em nova existência, que será pior do que
aquela cujo curso interromperam. A observação, realmente, mostra que os efeitos
do suicídio não são idênticos.
Alguns
há, porém, comuns a todos os casos de morte violenta e que são a conseqüência
da interrupção brusca da vida. Há, primeiro, a persistência mais prolongada e
tenaz do laço que une o Espírito ao corpo, por estar quase sempre esse laço na
plenitude da sua força no momento em que é partido, ao passo que, no caso de
morte natural, ele se enfraquece gradualmente e muitas vezes se desfaz antes
que a vida se haja extinguido completamente.
As
conseqüências deste estado de coisas são o prolongamento da perturbação
espiritual, seguindo-se à ilusão em que, durante mais ou menos tempo, o
Espírito se conserva de que ainda pertence ao número dos vivos. (155 e
165)
A
afinidade que permanece entre o Espírito e o corpo produz, nalguns suicidas,
uma espécie de repercussão do estado do corpo no Espírito, que, assim, a seu
mau grado, sente os efeitos da decomposição, donde lhe resulta uma sensação
cheia de angústias e de horror, estado esse que também pode durar pelo tempo
que devia durar a vida que sofreu interrupção.
Não
é geral este efeito; mas, em caso algum, o suicida fica isento das
conseqüências da sua falta de coragem e, cedo ou tarde, expia, de um modo ou de
outro, a culpa em que incorreu.
Assim
é que certos Espíritos, que foram muito desgraçados na Terra, disseram ter-se
suicidado na existência precedente e submetido voluntariamente a novas provas,
para tentarem suportá-las com mais resignação. Em alguns, verifica-se uma
espécie de ligação à matéria, de que inutilmente procuram desembaraçar-se, a
fim de voarem para mundos melhores, cujo acesso, porém, se lhes conserva
interdito.
A
maior parte deles sofre o pesar de haver feito uma coisa inútil, pois que só
decepções encontram. A religião, a moral, todas as filosofias condenam o
suicídio como contrário às leis da Natureza. Todas nos dizem, em princípio, que
ninguém tem o direito de abreviar voluntariamente a vida. Entretanto, por que
não se tem esse direito? Por que não é livre o homem de pôr termo aos seus
sofrimentos?
Ao
Espiritismo estava reservado demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram, que o
suicídio não é uma falta, somente por constituir infração de uma lei moral,
consideração de pouco peso para certos indivíduos, mas também um ato estúpido,
pois que nada ganha quem o pratica, antes o contrário é o que se dá, como no-lo
ensinam, não a teoria, porém os fatos que ele nos põe sob as vistas. (O
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, 1. ed. especial, FEB.)
O
suicídio
A
incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as idéias materialistas, numa
palavra, são os maiores incitantes ao suicídio; ocasionam a covardia moral.
Quando homens de ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçam por
provar aos que os ouvem ou lêem que estes nada têm a esperar depois da morte,
não estão de fato levando-os a deduzir que, se são desgraçados, coisa melhor
não lhes resta senão se matarem? Que lhes poderiam dizer para desviá-los dessa
conseqüência? Que compensação lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem
dar? Nenhuma, a não ser o nada.
Daí
se deve concluir que, se o nada é o único remédio heróico, a única perspectiva,
mais vale buscá-lo imediatamente e não mais tarde, para sofrer por menos tempo.
A
propagação das doutrinas materialistas é, pois, o veneno que inocula a idéia do
suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de
semelhantes doutrinas assumem tremenda responsabilidade. Com o Espiritismo,
tornada impossível a dúvida, muda o aspecto da vida.
O
crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente para lá do túmulo, mas
em condições muito diversas; donde a paciência e a resignação que o afastam
muito naturalmente de pensar no suicídio; donde, em suma, a coragem moral.
ALLAN KARDEC (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, item 16, 3.
ed. especial, FEB.)
Suicidas
A
seguinte comunicação foi dada espontaneamente, em uma reunião espírita no
Havre, a 12 de fevereiro de 1863: Tereis piedade de um pobre miserável que
passa de há muito por cruéis torturas?! Oh! o vácuo... o Espaço...
despenho-me... caio... morro... Acudam-me! Deus, eu tive uma existência tão
miserável... Pobre diabo, sofri fome muitas vezes na velhice; e foi por isso
que me habituei a beber, a ter vergonha e desgosto de tudo. Quis morrer, e
atirei-me... Oh! meu Deus! Que momento! E para que tal desejo, quando o termo
estava tão próximo? Orai, para que eu não veja incessantemente este vácuo
debaixo de mim... Vou despedaçar- -me de encontro a essas pedras! Eu vo-lo
suplico, a vós que conheceis as misérias dos que não mais pertencem a esse
mundo. Não me conheceis, mas eu sofro tanto... Para que mais provas? Sofro! Não
será isso o bastante? Se eu tivera fome, em vez deste sofri- mento mais
terrível e aliás imperceptível para vós, não vacilaríeis em aliviar-me com uma
migalha de pão. Pois eu vos peço que oreis por mim... Não posso permanecer por
mais tempo neste estado... Perguntai a qualquer desses felizes que aqui estão,
e sabereis quem fui. Orai por mim. François-Simon Louvet. (O Céu e o
Inferno, Allan Kardec, 2a parte, cap. V, p. 301, 57. ed. FEB.)
O
pai e o conscrito
No
começo da guerra da Itália, em 1859, um negociante de Paris, pai de família,
gozando de estima geral por parte dos seus vizinhos, tinha um filho que fora
sorteado para o serviço militar. Impossibilitado de o eximir de tal serviço,
ocorreu-lhe a idéia de suicidar-se a fim de o isentar do mesmo, como filho
único de mulher viúva. Um ano mais tarde, foi evocado na Sociedade de Paris a
pedido de pessoa que o conhecera, desejosa de certificar-se da sua sorte no
mundo espiritual. (A S. Luís.) Podereis dizer-nos se é possível evocar o
Espírito a que vimos de nos referir? R. Sim, e ele ganhará com isso, porque
ficará mais aliviado.
1. Evocação. R. Oh! obrigado! Sofro muito,
mas... é justo. Contudo, ele me perdoará. O Espírito escreve com grande
dificuldade; os caracteres são irregulares e mal formados; depois da palavra
mas, ele pára, e, procu- rando em vão escrever, apenas consegue fazer alguns
traços indecifráveis e pontos. É evidente que foi a palavra Deus que ele não
conseguiu escrever.
2.
Tende a bondade de preencher a lacuna com a palavra que deixastes de escrever.
R. Sou indigno de escrevê-la.
3.
Dissestes que sofreis; compreendeis que fizestes muito mal em vos suicidar; mas
o motivo que vos acarretou esse ato não provocou qualquer indulgência? R. A
punição será menos longa, mas nem por isso a ação deixa de ser má.
4.
Podereis descrever-nos essa puni- ção? R. Sofro duplamente, na alma e no corpo;
e sofro neste último, conquanto o não possua, como sofre o operado a falta de
um membro amputado.
5.
A realização do vosso suicídio teve por causa unicamente a isenção do vosso
filho, ou concorreram para ele outras razões? R. Fui completamente inspirado
pelo amor paterno, porém, mal inspirado. Em atenção a isso, a minha pena será
abreviada.
6.
Podeis precisar a duração dos vossos padecimentos? R. Não lhes entrevejo o
termo, mas tenho certeza de que ele existe, o que é um alívio para mim.
7.
Há pouco não vos foi possível escrever a palavra Deus, e no entanto temos visto
Espíritos muito sofredores fazê-lo: será isso uma conseqüência da vossa
punição? R. Poderei fazê-lo com grandes esforços de arrependimento.
8.
Pois então fazei esses esforços para escrevê-lo, porque estamos certos de que
sereis aliviado. (O Espírito acabou por traçar esta frase com caracteres
grossos, irregulares e trêmulos: Deus é muito bom.)
9.
Estamos satisfeitos pela boa vontade com que correspondestes à nossa evocação,
e vamos pedir a Deus para que estenda sobre vós a sua misericórdia. R. Sim,
obrigado.
10.
(A S. Luís.) Podereis ministrar-nos a vossa apreciação sobre esse suicídio? R.
Este Espírito sofre justamente, pois lhe faltou a confiança em Deus, falta que
é sempre punível. A punição seria maior e mais duradoura, se não houvera como
atenuante o motivo louvável de evitar que o filho se expusesse à morte na
guerra. Deus, que é justo e vê o fundo dos corações, não o pune senão de acordo
com suas obras.
OBSERVAÇÕES
À primeira vista, como ato de abnegação, este suicídio poder-se-ia considerar
desculpável. Efetivamente assim é, mas não de modo absoluto. A esse homem
faltou a confiança em Deus, como disse o Espírito S. Luís. A sua ação talvez
impediu a realização dos destinos do filho; ao demais, ele não tinha a certeza
de que aquele sucumbiria na guerra e a carreira militar talvez lhe fornecesse
ocasião de adiantar-se. A intenção era boa, e isso lhe atenua o mal provocado e
merece indulgência; mas o mal é sempre o mal, e se o não fora, poder-se- ia,
escudado no raciocínio, desculpar todos os crimes e até matar a pretexto de
prestar serviços.
A
mãe que mata o filho, crente de o enviar ao céu, seria menos culpada por tê-lo
feito com boa intenção? Aí está um sistema que chegaria a justificar todos os
crimes cometidos pelo cego fanatismo das guerras religiosas. Em regra, o homem
não tem o direito de dispor da vida, por isso que esta lhe foi dada visando
deveres a cumprir na Terra, razão bastante para que não a abrevie
voluntariamente, sob pretexto algum. Mas, ao homem visto que tem o seu
livre-arbítrio ninguém impede a infração dessa lei. Sujeita-se, porém, às suas
conseqüências. O suicídio mais severamente punido é o resultante do desespero
que visa a redenção das misérias terrenas, misérias que são ao mesmo tempo expiações
e provações. Furtar- -se a elas é recuar ante a tarefa aceita e, às vezes, ante
a missão que se devera cumprir.
O
suicidio não consiste somente no ato voluntário que produz a morte instantânea,
mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças
vitais. Não se pode tachar de suicida aquele que dedicadamente se expõe à morte
para salvar o seu semelhante: primeiro, porque no caso não há intenção de se
privar da vida, e, segundo, porque não há perigo do qual a Providência nos não
possa subtrair, quando a hora não seja chegada. A morte em tais contingências é
sacrifício meritório, como ato de abnegação em proveito de outrem. (O
Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, itens nos 5, 6, 18 e 19.) (O Céu e o
Inferno, Allan Kardec, 2a parte, cap. V, p. 298-300, 57. ed. FEB.)
Suicídio
Quais
as primeiras impressões dos que desencarnam por suicídio? A primeira decepção
que os aguarda é a realidade da vida que se não extingue com as transições da
morte do corpo físico, vida essa agravada por tormentos pavorosos, em virtude
de sua decisão tocada de suprema rebeldia.
Suicidas
há que continuam experimentando os padecimentos físicos da última hora
terrestre, em seu corpo somático, indefinidamente. Anos a fio, sentem as
impressões terríveis do tóxico que lhes aniquilou as energias, a perfuração do
cérebro pelo corpo estranho partido da arma usada no gesto supremo, o peso das
rodas pesadas sob as quais se atiraram na ânsia de desertar da vida, a passagem
das águas silenciosas e tristes sobre os seus despojos, onde procuraram o
olvido criminoso de suas tarefas no mundo e, comumente, a pior emoção do
suicida é a de acompanhar, minuto a minuto, o processo da decomposição do corpo
abandonado no seio da terra, verminado e apodrecido.
De todos os desvios da vida humana o suicídio
é, talvez, o maior deles pela sua característica de falso heroísmo, de negação
absoluta da lei do amor e de suprema rebeldia à vontade de Deus, cuja justiça
nunca se fez sentir, junto dos homens, sem a luz da misericórdia. EMMANUEL (O
Consolador, psicografia de Francisco C. Xavier, pergunta 154, 25. ed. FEB.)
Suicídio
e obsessão
(...)
Fala-vos humilde companheira que ainda sofre, depois de aflitiva tragédia no
suicídio, alguém que conhece de perto a responsabilidade na queda a que se
arrojou, infeliz. O pensamento delituoso é assim como um fruto apodrecido que
colocamos na casa de nossa mente. (...) Jovem caprichosa, contrariada em meus
impulsos afetivos, acariciei a idéia da fuga, menoscabando todos os favores que
a Providência Divina me concedera à estrada primaveril. Acalentei a idéia do
suicídio com volúpia e, com isso, através dela, fortaleci as ligações
deploráveis com os desafetos de meu passado, que falava mais alto no presente.
(...). Refletia no suicídio com a expectação de quem se encaminhava para uma
porta libertadora, tentando, inutilmente, fugir de mim mesma.
E,
nesse passo desacertado, todas as cadeias do meu pretérito se reconstituíram,
religando-me às trevas interiores, até que numa noite de supremo infortúnio
empunhei a taça fatídica que me liquidaria a existência na carne. (...) na
penumbra do quarto, rostos sinistros se materializaram de leve e braços
hirsutos me rodearam.
Vozes
inesquecíveis e cavernosas infundiram-me estranho pavor, exclamando: É preciso
beber. Senti-me desequilibrada e, embora sustentasse a consciência do meu
gesto, sorvi, quase sem querer, a poção com que meu corpo se rendeu ao
sepulcro.
Em
verdade, eu era obsidiada... Sofria a perseguição de adversários, residentes na
sombra, mas perseguição que eu mesma sustentei com a minha desídia e ociosidade
mental. Em razão disso, padeci, depois do túmulo, todas as humilhações que
podem rebaixar a mulher indefesa...
Agora,
que se me refazem as energias, recebi a graça de acordar nos amigos encarnados
a noção de responsabilidade e consciência , no campo das imagens que nós mesmos
criamos e alimentamos (...). HILDA (Vozes do Grande Além, Diversos Espíritos,
psicografia de Francisco C. Xavier, p. 164-166, 4. ed. FEB.)
O
vale dos suicidas
(...)
Mas na caverna onde padeci o martírio que me surpreendeu além do túmulo, nada
disso havia! Aqui, era a dor que nada consola, a desgraça que nenhum favor
ameniza, a tragédia que idéia alguma tranqüilizadora vem orvalhar de esperança!
Não há céu, não há luz, não há sol, não há perfume, não há tréguas!
O
que há é o choro convulso e inconsolável dos condenados que nunca se
harmonizam! O assombroso ranger de dentes da advertência prudente e sábia do
sábio Mestre de Nazaré! A blasfêmia acintosa do réprobo a se acusar a cada novo
rebate da mente flagelada pelas recordações penosas! A loucura inalterável de
consciências contundidas pelo vergastar infame dos remorsos! O que há é a raiva
envenenada daquele que já não pode chorar, porque ficou exausto sob o excesso
das lágrimas! O que há é o desaponto, a surpresa aterradora daquele que se
sente vivo a despeito de se haver arrojado na morte! É a revolta, a praga, o
insulto, o ulular de corações que o percutir monstruoso da expiação transformou
em feras! O que há é a consciência conflagrada, a alma ofendida pela
imprudência das ações cometidas, a mente revolucionada, as faculdades
espirituais envolvidas nas trevas oriundas de si mesma! O que há é o ranger de
dentes nas trevas exteriores de um presídio criado pelo crime, votado ao martírio
e consagrado à emenda! É o inferno, na mais hedionda e dramática exposição,
porque, além do mais, existem cenas repulsivas de animalidade, práticas abjetas
dos mais sórdidos instintos, as quais eu me pejaria de revelar aos meus irmãos,
os homens! (...) CAMILO CÂNDIDO BOTELHO (Memórias de um Suicida,
psicografia de Yvonne A. Pereira, p. 21-22, 3. ed. FEB.)
Suicídio
– solução insolvável
(...)
O suicídio é terrível mal que aumenta na Humanidade e que deve ser combatido
por todos os homens. Essa rigidez mental que resolve pela solução trágica é
doença complexa.
Conscientizar
as criaturas a respeito das conseqüências do ato, no além-túmulo, das dores que
maceram os familiares e do ultraje às Leis Divinas, é método salutar para
diminuir a incidência dessa solução insolvável.
Dialogar
com bondade e paciência com as pessoas que têm propensão para o suicídio;
sugerir-lhes dar-se um pouco mais de tempo, enquanto o problema altera a sua
configuração; evitar oferecer bases ilusórias para esperanças fugazes que o
tempo desmancha; estimular a valorização pessoal; acender uma luz no túnel do
seu desespero, entre outros recursos, constituem terapia preventiva, que se
fortalecerá no exercício da oração, das leituras otimistas, espirituais, nos
passos e no uso da água fluidificada.
Aquele
que tenta o suicídio e não o vê consumado, é candidato natural à recidiva, que
culmina tão logo se lhe apresenta o móvel desencadeador do desejo...
O
suicídio é o mais grosseiro vestígio da fragilidade humana, que ata o homem ao
primarismo de que se deve libertar.
O
homem é, na verdade, a mais alta realização do pensamento divino, na Terra,
caminhando para a glória total, mediante as lutas e os sacrifícios do
dia-a-dia. MANOEL P. DE MIRANDA (Temas da Vida e da Morte, psicografia
de Divaldo P. Franco, p. 99-100, 5. ed. FEB.)
Suicídio
sem dor
(...)
Lutar por vencer as vicissitudes é inevitável, desde que a própria injunção
biológica é uma constante faina, em que nascimento, morte, transformação e
ressurgimento se dão por automatismos na maquinaria fisiológica, ensinando à
consciência a técnica do esforço para a preservação da vida.
O
pretenso suicida, que consumou a trágica fuga da responsabilidade, jamais se
libera, como é natural, dos resultados nefários do seu gesto, sempre
tresloucado, por ferir, na agressão furiosa, o mecanismo do instinto de
conservação da vida, que governa a existência animal e o possui como fator para
sua preservação.
Orgulhoso
ou pusilânime, irresponsável ou vão, o suicida não se evade de si mesmo, da sua
consciência; torna-se, aliás, o seu próprio algoz cujas penas o gesto lhe impõe
e que resgatará em injunções mil vezes mais afligentes do que na forma em que
ora se apresentam.
A
burla que se permite, através de supostos meios indolores para sofrer a
desencarnação, hiberna-o por algum tempo, em espírito, até o momento em que
desperta mais vilipendiado e agônico, vivo, estuante de vitalidade, padecendo
as camarteladas que a superlativa imprudência provocou.
É
óbvio que ninguém ludibria a Consciência Cósmica, que se expressa na harmonia
do Universo e vige, pulsante, na consciência humana individual.
Necessário
que o homem assuma as responsabilidades da vida e instrua-se nas leis que lhe
regem a existência, aprimorando-se e reunindo valores de que possa dispor nos
momentos-desafio, a fim de superá-los e reorganizar-se para os futuros
cometimentos até o instante em que se lhe encerre o ciclo biológico.
Estará,
então, liberado da matéria, mas mantido na vida... Nas aparentes mortes sem
dor, provocadas pelos que desejam fugir ou esquecer, o sofrimento moral tem
início quando se elabora o programa da evasão e jamais se pode prever quando
terminará.
A
consciência humana é indestrutível, portanto, o suicídio de qualquer espécie é
arrematada loucura, um salto no desconhecido abismo da imprevisível
desesperação. MANOEL P. DE MIRANDA (Temas da Vida e da Morte, psicografia de
Divaldo P. Franco, p. 102-104, 5. ed. FEB.)
O
trágico desfecho
(...)
Vocês me deram a vida corporal e sacrificaram-se por toda a existência, a fim
de que sua filha fosse honrada e feliz.
Nunca
mediram esforços em favor da minha ventura primeiro, para, depois, a sua.
Facultaram-me o título universitário e o excelente trabalho a que me tenho
entregue com responsabilidade e consciência de dever.
Devo-lhes
tudo e amo-os com total empenho da alma... Todavia, sofro muito, experimentando
ignota, estranha dor que me macera revelar-lhes. Sou frágil, nessa área, que é
a do amor.
Apesar
de jamais ele me haver faltado nos seus sentimentos a mim dirigidos, a
adolescência e a idade da razão levaram-me a buscá-lo em expressão diferente.
Há pouco, quando o encontrei, passei a viver, no mesmo momento, um céu e um
inferno que agora alcança o seu estado máximo.
O
homem, a quem amo e que me diz amar, é, infelizmente, para mim, casado e pai
generoso. O nosso, é um amor impossível na Terra, exceto se nos dispusermos a
fruí-lo no mar das lágrimas dos outros, que não lhe merecem a deserção do
lar... Fui forjada nos metais da dignidade que o seu carinho de pais modelou no
meu caráter... Não é necessário minudenciar mais nada. Não podendo viver com
ele, nem me sendo possível prosseguir sem ele, retiro-me de cena, preferindo
sofrer e fazer os seus corações amantíssimos chorarem uma filha digna, a
permanecer, para desespero de muitos, inclusive de vocês, que pranteariam uma
filha alucinada... Perdoem-me, anjos da minha vida.
Não
pensem que ajo egoisticamente, esquecida do amor de vocês.
Pelo
contrário, atuo em homenagem ao seu amor e por amor também.
Não
avalio, em profundidade, a tragé- dia do suicídio.
Tenho-o, na mente, há algum tempo, e não o
posso adiar mais, ou optarei pelo suicídio moral, que culminará, certamente,
mais tarde, nesta forma infeliz... Ele, o homem amado, ficará tão surpreso com
o meu gesto tresvariado, quanto vocês estarão ao ler esta carta.
Mais
uma vez abençoem-me e intercedam à Mãe de Jesus, que tanto sofreu, pela filha
que os ama, porém, não suporta mais viver(...).
O
suicídio é a culminância de um estado de alienação que se instala sutilmente. O
candidato não pensa com equilíbrio, não se dá conta dos males que o seu gesto
produz naqueles que o amam.
Como
perde a capacidade de discernimento, apega-se-lhe como única solução, esquecido
de que o tempo equaciona sempre todos os problemas, não raro, melhor do que a
precipitação. A pressa nervosa por fugir, o desespero que se instala no íntimo,
empurram o enfermo para a saída sem retorno... MANOEL P. DE MIRANDA (Loucura
e Obsessão, psicografia de Divaldo P. Franco, p. 304-305 e 307, 8. ed.
FEB.)
Fonte: Federação Espírita Brasileira